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Guia completo para uma boa resenha

Para você não ter mais que garimpar dicas por aí



Se há tempos atrás, resenhas eram algo mais comum em ambientes acadêmicos, no máximo estendidas a determinadas colunas de jornais e revistas, hoje em dia, blogs e canais de todos os tipos sobre o assunto, despontaram.


Faz sentido. Corresponde à demanda atual, onde somos diariamente ofertados com uma quantidade massiva de conteúdo, quase impossível de acompanhar, e mesmo assim, nos esforçamos para isso.


Resenhistas da internet são os críticos de jornais de momento. As resenhas são importantes para os criadores de conteúdo, pela visibilidade e alcance que trazem para a obra — sobretudo as independentes — assim como são para os consumidores que se valem de uma espécie de curadoria para selecionar quais das tantas obras disponíveis irão destinar sua preciosa atenção.


E é claro, na era das redes sociais é ótimo saber sobre o que todos estão opinando e como, antes de se juntar à discussão.


Se pode resenhar basicamente qualquer coisa, até mesmo produtos não relacionados à arte, mas nesse artigo vamos focar na resenha de histórias, embora esse conteúdo também possa te ajudar a compor um roteiro para vídeo ou podcast, por exemplo.


Esses são os tópicos abordados no decorrer do texto. Se essa não for sua primeira vez por aqui ou se está procurando uma informação específica, espero que o sumário possa te ajudar.


Índice



O que é?


Resenha é um gênero textual onde uma obra é analisada e decomposta, observando seus aspectos principais, quase sempre, de um ponto de vista opinativo.


Seu objetivo é uma manifestação de ideias que orientem de alguma forma — positiva ou negativamente — a decisão de consumo do leitor sobre aquela obra. Logo, uma resenha é muito mais do que a descrição resumida do conteúdo.


Para quem são?


O público alvo das resenhas varia do seu tipo ou formato. As resenhas feitas para o meio acadêmico e para o jornalístico, servem propósitos diferentes, afinal.


No caso em que estamos focando aqui, as personas de interesse das resenhas são aqueles que querem saber sobre o conteúdo de uma história, seja para complementarem suas próprias opiniões, mesmo depois de já terem consumido a obra ou para orientar a escolha de consumir ou não.


Tipos


Existem dois tipos de resenhas, diferenciadas pelo estilo de julgamento que as caracteriza.

1. Resenha descritiva


Também chamada de resenha técnica ou científica, uma vez que é muito usada no meio acadêmico e ao tratar de livros técnicos.


Aqui o resenhista deve ser breve na apresentação da obra. Nada de detalhar demais os eventos.


De caráter informativo, aqui a análise é feita sob o julgamento de verdade. Um julgamento pragmático, ou seja, julgamos se as ideias do autor da obra estão corretas e seu sucesso — ou não — ao transmiti-las no conteúdo.


Não é o estilo que esse artigo contempla.


2. Resenha crítica


Mais detalhada que o tipo anterior, também é conhecida como resenha opinativa. Os motivos são autoexplicativos, aqui é onde o resenhista está liberado para opinar. Mais ainda, ele deve fazer isso. Negativa ou positivamente.


A resenha crítica abrange uma contextualização a respeito da obra analisada, ainda que não a detalhe inteira, uma vez que o resenhista precisa fundamentar seus argumentos.


Na crítica vale o julgamento de valor, ou seja, estilo, estética, formato, etc.


Seu objetivo é a análise interpretativa da obra sob um ponto de vista pessoal.


Esse sim, é o foco desse post.


Características


Apesar de atualmente existirem nos mais variados formatos e beberem muito do estilo e do tom de quem as faz, no geral, resenhas costumam seguir os seguintes aspectos:

  • Concisão;

Resenhas, de ambos os tipos, são breves. Logo, essa é uma de suas características mais marcantes. Quem consome resenhas quer saber algo específico, no máximo com uma sucinta contextualização. Eles não esperam que o resenhista comente cada detalhe da obra, tampouco serem retidos por mais de alguns minutos. Lembre-se, o tempo da internet voa acelerado. Se seu leitor se chatear e desviar a atenção, para o Twitter, por exemplo, é provável que não volte mais.

  • Objetividade;

Tão importante quanto a concisão é a objetividade. Qual é o ponto chave da obra resenhada? Atente-se a ele. Qual o ponto chave da sua análise? Onde você quer chegar? Você recomenda essa obra ao leitor, ou não?


Não dê muitas voltas, não seja prolixo. Isso pode, inclusive, enfraquecer sua argumentação.

  • Argumentação;

E por falar nela… Se o seu propósito é persuadir o leitor, esse deve ser o ponto forte da sua resenha. Coesão e coerência são suas maiores aliadas para uma exposição de ideias clara, bem encadeada e eficaz.

  • Recomendação;

Se tratando de resenhas críticas, não se esqueça de que deve uma recomendação ao seu leitor — mesmo que seja um alerta de “fuja para bem longe daqui!”. Afinal, ele não acompanhou toda a sua contextualização e considerações, para no final te encontrar hesitando na conclusão.


Se alguém se dispõe a ler sua resenha é porque confia no seu poder de indicação. Não o decepcione. Sem a posição do resenhista, seu trabalho pode acabar sendo visto não como uma resenha, mas como um resumo.


Se você não se sente muito seguro para opinar determinada obra, não faça. Não se force a fazer algo só porque todos parecem estar fazendo.


Estrutura


Também é uma característica, mas mereceu um tópico à parte. Novamente, a despeito da variação de formatos, uma ordem básica prevalece. E como qualquer outro gênero textual, a resenha tem um padrão que a identifica como tal.


Introdução


É a parte informativa, ou seja, é hora de uma breve explanação que situe o leitor sobre a obra resenhada e um pouco do que ele pode esperar da sua resenha em si.


Aqui você diz quem é o autor da obra, fala um pouco sobre seu trabalho no geral, sobre o tema abordado e o gênero em que se encaixa.


A introdução tem muito peso por ser o primeiro contato do leitor com o texto. Essa etapa tem o poder de segurá-lo ou fazê-lo desistir logo de cara, então, além de passar essas informações, você precisa se preocupar em fazer isso de forma atraente.


É ótimo se já na introdução, seu leitor puder sentir seu estilo de voz.


Se assim como eu, você for daqueles que emperra na introdução, tudo bem. Pule essa parte e a construa por último. Acaba sendo mais fácil depois de já termos estabelecido o texto em si, introduzir sobre o que ele se trata.


Desenvolvimento


A maior parte do texto. É aqui onde a argumentação e a crítica entram. Também cabe trazer a sinopse e comentar sobre ela. Use citações, dessa ou de outras obras relacionadas, mas lembre-se de sinalizá-las como tal e sempre dar os devidos créditos.


Tome cuidado para o dissertar da premissa não soar mecânico demais, intercale sua crítica com essa apresentação pra fazê-la soar mais natural.


Não revele o final ou detalhes importantes sem indicar clara — e antecipadamente — ao leitor que a crítica contém spoilers. Sempre contextualize caso sua obra resenhada seja uma continuação.


Uma boa dica é calcular da seguinte forma: Da metade até dois terços da crítica, você trabalha na apresentação, no resumo e nas ideias do autor; a metade ou terço restante é o espaço da sua avaliação e conclusão.


Conclusão


Aqui você pega uma chave de ouro e fecha seu trabalho. O arremate. Onde você resume sua própria análise e a reforça num veredito.


É a hora da verdade: você recomenda ou não essa obra? Ela se encaixa no público alvo? Se destaca no gênero?


Não se estenda muito, não acrescente ideias ou opiniões novas, não abra raciocínios que não irão se desenvolver. Ao invés disso, proponha soluções para eventuais problemas que tenha encontrado.


Alguns resenhistas usam esse espaço para fazer uma classificação, dar uma espécie de nota, estrelas e etc. Lance mão do recurso se lhe couber.


Como fazer


Você entendeu do que se trata e ganhou uma noção básica, mas como levar isso para a prática?


Consuma a obra


Não faz sentido resenhar uma obra que você não conhece bem. Por isso, a consuma inteira, dedique atenção nisso. Se possuir tempo e disposição, o ideal é ler/assistir/ouvir mais de uma vez, já que em cada uma, nossa percepção se expande e elementos novos são vistos de pontos de vistas diferentes.


Faça anotações e destaques


Facilita muito nas fases seguintes, destacar partes que te soarem especiais enquanto consome a obra. Que palavras, frases, mensagens pareceram importantes para o autor ao ponto dele reforçar? Repetições mostram importância, em que contexto elas foram usadas?


Seja gravando áudios para si mesmo ou anotando num bloquinho, documente suas primeiras impressões puras. Não confie que vai lembrar de tudo depois, porque ainda que se lembre, muito da forma e essência do pensamento original terá se perdido.


Você não é obrigado a usar todas as suas anotações e é claro que pode mudar suas opiniões ao longo do processo, numa segunda leitura, por exemplo. Mesmo assim, essas anotações são uma ótima orientação.


Faça pesquisas complementares


Supondo que a obra se passe durante a 2ª Guerra Mundial e você não entende muito do assunto. Que seja a sua primeira vez consumindo algo de determinado gênero ou que você não conheça o autor antes de se deparar com a obra em mãos. Pode até ser que as suas anotações tenham te deixado cheios de dúvidas. É hora de acabar com elas, fechar todas as arestas que possam te deixar inseguro na argumentação. Abra o Google, vamos pesquisar.


Escreva uma síntese


Você vai precisar dela no desenvolvimento da resenha, como já falamos antes. A essa altura já é um bom momento para você destravar a mão e rascunhar uma.


Mãos à obra! Escreva sua resenha


Agora você junta tudo o que acumulou até aqui numa discussão aprofundada — porém breve! Não esqueça da concisão. Seu trabalho aqui é combinar sua análise com a reação que a obra te causou e o impacto que ela teve em seu nicho no geral. Tudo isso de uma forma que aqueles que consumam sua resenha, tenham uma boa ideia do que encontrarão — com ou sem spoilers.


Além de que seria ótimo se lembrassem de suas opiniões quando estiverem de frente a obra original ou num debate nas redes sociais.


Revise seu trabalho


Achou que já estava tudo pronto? Se enganou. Essa parte talvez seja até mais importante que a escrita em si. Afinal, acertar de primeira não é a regra e ainda assim, como saber se acertou mesmo sem voltar para conferir?


É aqui onde você passa seu texto por uma inspeção de regras de ortografia, gramática, digitação, e etc. Você perdeu a coesão em algum momento? Sua estrutura está firme? Seus argumentos estão bem encadeados? Todos eles têm uma justificativa coerente?


É a hora de checar se você deu créditos em todas as citações e referências, se seu texto é fluido e claro. Se tudo o que aprendeu acima foi bem utilizado. Pense no seu público alvo. A linguagem e o tom que você usou está adequado? Tem certeza de que essa obra os interessa?


Se possível, quando se trata de revisar nosso próprio trabalho, é bom deixá-lo descansar — assim como nossa mente — por um tempo, no mínimo uns dias, para obtermos uma melhor perspectiva na revisão.


O que analisar


Você entendeu do que se trata e avançou até descobrir como construir sua resenha, mas a grande dúvida para muita gente, no fim das contas, é o que analisar.


Se tratando de obras ficcionais, é ideal que você conheça e compreenda os principais elementos narrativos, pois a análise deles é o coração da crítica. Logo, tendo enredo, tempo e espaço, narrador e personagens em foco, como decidir o que exatamente se atentar sobre esses aspectos?


Um dos métodos mais recomendados para facilitar essa tarefa é se fazer perguntas. Aqui vai um compilado de questões que podem ser úteis:


  • Qual o estilo do autor? Essa obra destoa ou se enquadra em seus trabalhos anteriores? Se adequa ao público alvo?

  • A respeito do desenvolvimento, ele é bom ou ruim? É coerente? Linear ou não? É fluido?

  • Os fatos se conectam bem?

  • Início, desenvolvimento e clímax estão bem cadenciados?

  • Qual a principal força por trás dos eventos?

  • O enredo é eficaz em sustentar a história?

  • O que empurra os personagens para o movimento?

  • Os personagens foram bem desenvolvidos e geram empatia?

  • O protagonista consegue segurar o leitor interessado?

  • A relação protagonismo-antagonismo é bem construída?

  • Como o enredo molda o arco dos personagens? Como ele os impacta? Qual a relação entre esses elementos?

  • A obra possui alterações cronológicas? Se possui, elas agregam positiva ou negativamente na obra?

  • Qual a relevância do tempo e espaço para a história?

  • Qual estilo de narrador foi utilizado? Foi uma boa escolha?

  • Qual é o tom da obra? Ele se altera em algum momento? Como ele agrega?

  • A obra usa figuras de linguagem? Quais e com que intenção?

  • Qual é o tema da obra?

  • Quando a obra suspendeu a sua descrença?

  • A obra tenta passar uma mensagem? Ela consegue? Qual?

  • Quem é o público alvo da obra? Ele foi atingido com sucesso?

  • A obra é relevante em seu meio? Ela se destaca?

  • Quais são as citações mais marcantes?

  • O autor deixou algo em aberto?

  • Você também pode falar sobre o formato da obra. Sobre a diagramação de um livro, por exemplo, ou sobre a maquiagem e atuações de um filme.


Considerações finais


Ufa! Finalmente terminamos. Espero que esse guia tenha te ajudado.


Mas antes de te deixar em paz com sua crítica, como últimas dicas, recomendo que seja sensível em seu trabalho. Toda obra é a arte de alguém, algo que nasceu de um esforço, não foi da noite para o dia e assim como você com sua resenha, aqueles por trás da obra original tinham boas expectativas.


Não é que não se possa avaliar negativamente, no entanto, o modo de fazê-lo merece cuidado. Em especial, por exemplo, quando sua crítica pode, de fato, chegar ao autor, como no caso de autores independentes nacionais. Entre uma crítica justa e um hate exagerado há — e deve haver — uma grande diferença.


Critique aquilo que lhe foi apresentado, respeitando não só o autor como a estima que o público tem pela obra. Jamais critique apenas sob o ponto de vista do que você queria que o autor tivesse feito.


Boa sorte e bom trabalho!

 

Fontes: gramatica.net.br todamateria.com.br canaldoensino.com.br Texto & Interação (2009), Atual Editora Português Linguagens 1 (2008), Atual Editora Português, Contexto, Interlocução e Sentido (2008), Moderna


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