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8 atitudes que fazem escritores melhores

Você não é escritor só quando está digitando

A prática leva à perfeição, quantas vezes já não ouvimos essa frase? Contudo, a escrita criativa não é apenas uma atividade mecânica onde para o total domínio basta a repetição sistemática. E por acaso existe isso de total domínio da escrita? Escrevendo por hobby há anos, ainda sinto minha escrita evoluir aos pouquinhos — e às vezes travar — de tempos em tempos. Acredito que jamais atingirei a perfeição, pois não creio que isso seja possível.


A escrita criativa é uma arte e, sendo assim, está conectada àquele que a produz. Ou seja, seu exercício se entrelaça ao nosso estilo de vida e cotidiano. Por isso, a lista de hoje traz oito atitudes de longo prazo que influenciam positivamente o resultado da minha arte e experiência enquanto artista, na esperança de agregar valor a mais alguém.


1. Leia muito


Essa é um clássico e tenho certeza que você já esbarrou nela por aí. De todas as dicas rápidas espalhadas pela internet, essa talvez seja a mais verdadeira. Escrever trata-se de proporcionar uma experiência de imersão e entretenimento ao leitor. Como fazer isso sem conhecer essas experiências pessoalmente? Como entender os sentimentos despertados no público alvo ou quais as melhores formas de levá-lo ao estado que queremos?


Algumas pessoas pensam que assistir muitos filmes e séries é uma alternativa capaz de dispensar a leitura. Não é verdade. Bom, sim, você está consumindo histórias ficcionais, mas num formato específico onde nem todas as técnicas e recursos de execução se aplicam ao que você irá trabalhar. O que pode fazer seu livro não soar… como um livro. Ou sequer como você pretendia. Por exemplo, transmitir a sensação de um jumpscare nas páginas será difícil para quem apenas o sentiu através das telas.


Entender e conhecer o que se quer fazer é fundamental para reproduzir. Se você não gosta de ler, por que escrever um livro? Há outras opções no escopo de contar histórias que talvez sejam mais compatíveis com sua essência artística.


Uma extensão dessa dica é ler não como um espectador comum, mas como um escritor, ciente do processo de como a obra em suas mãos é feita, tecendo um olhar analítico sobre as técnicas e intenções do autor e agregando esse conhecimento para suas próprias experiências. Lembrando que estamos falando apenas de técnicas, não do conteúdo em si. Não confundir com plágio.


2. Tenha curiosidade


Nossos personagens e mundos fictícios emulam a realidade que conhecemos, em todo ou em partes. Não importa se queremos distorcer, acrescentar ou criticar, para emular a realidade é preciso conhecê-la.


Eu sei, existe mais informação no mundo do que somos capazes de consumir numa vida e a correria do dia a dia não permite que sejamos experts em tudo. Mas não precisamos ser. Fazendo jus ao subtítulo, só precisamos ser curiosos.


Tente olhar para o que está ao seu redor com atenção, deixe sua mente questionar o que vê, procure achar respostas para as questões que encontrou. De vez em quando, assista vídeos, ouça podcasts de curiosidades ou qualquer outro formato de conteúdo que te agrade e te faça descobrir coisas novas.


Naturalmente você irá filtrar essa busca entre assuntos que te atraem, portanto, os mais prováveis de serem explorados em suas obras. Por falar nelas, elas também podem orientar sua curiosidade. Sabe aquele assunto que deu na telha de escrever, mas você não sente que conhece o bastante ou aquela travadinha no meio da cena porque bateu uma dúvida?


Deixe a curiosidade trabalhar.


3. Nunca pare de estudar


Uma extensão do tópico anterior. Não se permita crer que você já sabe o suficiente, sequer do básico, mesmo que já pratique sua arte há muito tempo. A pretensão é a mãe do erro, irmã da acomodação e maior inimiga da evolução do artista.


Vivemos no que chamam de era da informação. A internet e as atualizações tecnológicas em geral aumentaram nosso alcance e volume de conteúdo exponencialmente. Conhecimento sempre foi algo renovável e nesse ritmo, o que você achava que sabia mês passado ou o que era tendência, norma, nesta época, pode deixar de ser num rolar de tela. Não existe chegar ao limite do conhecimento. Enquanto estivermos vivos é natural que as coisas mudem, que o novo surja e desatualize o velho. Acho pouco provável que você queira estagnar como artista. Há momentos em que precisamos refrescar o que já sabemos e por uma série de motivos cotidianos “esfriou” na superfície da consciência.


Contra isso, devemos ficar atentos às novidades das áreas que atuamos, mesmo para rejeitar precisamos conhecê-las, entendê-las. Nos atentar às bases do que fazemos. Escrevemos? É natural estar por dentro da língua portuguesa, por exemplo. Trabalha com suspense? O que há de novo no gênero? Se preocupa com a qualidade de sua escrita? Sempre haverá técnicas para aprender. Quer profissionalizar sua escrita? Quais são as oportunidades do mercado atual?


4. Conversar com pessoas mais velhas (e de fora da sua bolha)


Como criar pessoas fictícias verossímeis sem entender o mínimo das pessoas reais? Ler ou assistir outras histórias não pode suprir isso. Mesmo para caricaturar é preciso uma fonte.


Você pode argumentar que conhece a si mesmo e aos seus anseios, que escreve aquilo que queria ler ou viver. Ainda assim, trabalha com uma base humana, afinal tendemos a nos identificar com o que nos faz sentir representados de alguma forma, como espectadores e artistas. E, enquanto seres humanos, somos plurais, cheios de nuances, camadas, contextos. Não é nada fácil de entender e ninguém nasce sabendo.


Uma história complexa precisa de personagens complexos e um enredo coeso. Se o seu protagonista mora com a avó idosa e você aí lendo isso, não é um idoso, observar e conversar pessoas mais velhas pode te agregar um conhecimento único. A vivência de cada um é melhor passada e compreendida quando dita pelos próprios donos da experiência. O mesmo vale para qualquer personagem cujas determinadas características escapem das bolhas sociais as quais você está inserido.


Se abrir para essas conversas e novos aprendizados pode nos enriquecer muito como escritores, principalmente, se conseguirmos ouvir sem julgar, exercendo empatia. Você não precisa concordar ou fazer o mesmo que seus personagens, eles têm vidas próprias que vão de acordo com seu enredo. Para construir esses seres com sucesso e para que eles prendam, encantem ou enraiveçam o seu público, vale a pena nos abrirmos um pouco mais para o mundo.


5. Descreva o que está acontecendo ao redor


Descrição não é uma coisa fácil. Mesmo que você a adore, não é fácil de acertar. E poderíamos passar esse artigo inteiro apenas dissertando técnicas, mas conhecê-las e até decorá-las, não é o bastante. Nesse caso, vale a frase de abertura da introdução: a prática leva à perfeição.


Embora já tenhamos passado da fase de pretender perfeição, a prática leva sim, à evolução.


Além de tirar minhas histórias do planejamento, também gosto de exercitar minhas habilidades descritivas com outros exercícios. Um deles é descrever o que está ao meu redor.


Geralmente, eu não escrevo isso. Apenas deixo minha mente fazer o trabalho e presto atenção. É aquele momento de uma longa fila de espera em que eu pareço distraída ou mesmo no meio de um evento ou reunião de família. Por fora, estou quieta, calada, "alheia", mas na verdade, estou descrevendo tudo o que vejo na minha cabeça, da melhor forma possível. Escrevo cenas, capítulos inteiros que nunca irão para o papel, sobre a senhorinha com carrinho de compras atravessando a rua.


Outro treino é descrever minhas cenas favoritas de séries e filmes, como se fossem um livro. Isso eu costumo escrever. Porém os resultados não são usados na íntegra em nenhuma obra, por motivos óbvios. É apenas um exercício mesmo.


6. Use blocos de anotação


Não importa se você prefere digital ou os velhos papel e caneta. Apenas certifique-se de que ao seu alcance, sempre — eu disse sempre — terá algo onde você pode anotar aqueles pensamentos aleatórios que chegam, na maioria das vezes, nos momentos mais inusitados e a gente jura que vai lembrar na hora de sentar pra escrever e não, não vamos.


Talvez você visualize uma cena, destrave um diálogo que estava empacado há tempos, se inspire na construção de um personagem ou assistindo, lendo alguma coisa, vislumbre ideias para sua própria história. Talvez você apenas seja vítima dos clássicos “bati a cabeça no travesseiro e a inspiração chegou” ou “a inspiração da água", aquela que vem sempre no banho, no meio da louça e etc. No geral, isso acontece porque nesses momentos, sem perceber, relaxamos, paramos de forçar a mente por determinadas respostas e, como se quisesse nos passar um recado, ela enfim nos entrega o que estava por trás da ansiedade. Também pode ser que, por qualquer motivo individual, você esteja num ótimo dia da sua inspiração e seus pensamentos estejam trabalhando a favor da sua obra.


Você pode perceber no dia seguinte que sua ideia é horrível ou que era o tempero necessário para sua história. Mas não perceberá nada se não capturá-la o mais rápido possível, portanto, anote.


Não se preocupe muito em como fará isso em termos de estrutura. Tanto faz se for caótico, apenas precisa ser minimamente compreensível para você. O que importa é capturar ao máximo a essência do que pensou e sentiu na hora. Se sua ideia for uma linha de diálogo, anote de forma literal as frases, quem as dirá e o básico do contexto. Por exemplo:


“— Porque eu estava triste e queria te irritar! Porque você estava morto e eu queria que aparecesse. Porque é meu irmão caçula e era a minha função te proteger. — Eva, capítulo 25, acerto de contas com Abel.”

Você pode acabar percebendo que na prática, sua ideia virou algo novo. Tudo bem é um bom sinal. A anotação é para servir de base, a escrita não só pode como deve elaborá-la. E servem não só para evitar perdermos boas — e más — ideias. Serve para tirarmos da cabeça esse comichão de pensamento e deixarmos a mente livre para focar na demanda do presente, contribuindo com a nossa produtividade diária.


7. Perca a vergonha de dizer “sou escritor”


Quantos escritores você conhece que dizem isso abertamente, com orgulho, sem maiores explicações? Quantos escritores você conhece que escrevem por hobby e, mesmo assim, ostentam o título? Sabemos que o reconhecimento da escrita criativa enquanto atividade artística válida ainda carece de atenção na sociedade e que é, de fato, complicado explicar para aquela tia que pergunta como vamos ganhar dinheiro com livros, que há tamanha dificuldade de entrar no mercado editorial sendo iniciante e o dono da Amazon pode sair do planeta Terra num foguete, mas não pode pagar mais de um centavo por página lida dos seus livros na plataforma dele.


É muito provável que você aí, lendo isso, tenha outros títulos em sua vida além de escritor e, fora da bolha de seus semelhantes, esses sejam o que usa mais. É compreensível e, acalme-se, embora a realidade não seja um mar de rosas, eu não vim te desanimar.


Meu ponto é: ao menos para nós mesmos, precisamos dizer com confiança. Se você vê o mundo com o olhar de um contador de histórias, se vive de consumi-las, se é irresistível o impulso de criá-las, se ao pensar em sua vida a escrita sempre esteve presente, se ela está presente em seus sonhos e ambições, ora, do que mais você poderia se chamar?


Aceitar a si mesmo como artista é legitimar essa parte sua. Sim, sua arte é parte de quem você é, todo esse artigo se trata disso. Independentemente de em que ponto essa questão caminha num âmbito geral, o reconhecimento de que isso importa para você, merece seu respeito e sua atenção, pode guiar suas decisões cotidianas e aprimorar sua persona artística.


Por exemplo, ajuda a calar aquela vozinha sabotadora no fundo de nossas mentes que diz ser uma perda de tempo tirar um fim de semana para escrever seu livro, afinal você tem tarefas mais importantes.


8. Crie uma rotina de escrita


Outra dica clássica que remete ao “a prática leva a perfeição” e você com certeza já leu por aí. Sim, te falaram a verdade, ajuda muito. Por ser tão difundida, não vou me estender muito no papo de “a escrita é como um músculo que dói nos primeiros dias de exercício regular, mas essa fase passa e os resultados chegam”. Creio que você já saiba porque é tão importante, vamos para a prática. Como assim criar uma rotina de escrita?


O primeiro passo, na verdade, é encaixar a escrita na sua rotina. Você pode argumentar “mas eu nem tenho uma”, tem sim. Talvez não seja tão organizada quanto gostaria, porém, nossos dias tendem a repetir uma certa estrutura. A dica é analisar dentro das possibilidades da sua vida em que momento cabe um tempinho para escrever, por qual duração e com que frequência. Se no fim das contas o que sobrou para você foi apenas trinta minutinhos a noite ou só nos finais de semana, tudo bem. O que importa é mandar esse recado para nós mesmos e até para as pessoas ao redor. Enraizar o hábito. Se pouco pode não parecer muito bom, nada é pior ainda.


Depois disso, podemos começar a pensar numa rotina de escrita específica em termos do que você fará quando estiver no seu cantinho, escrevendo. Mas isso fica para um próximo texto, por hora, espero que esse aqui tenha sido útil. Boa sorte, boa escrita o/



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